quarta-feira, abril 29, 2009

entre a sombra e o corpo

(1) Foto de Ana Conde
Final da tarde em Salamanca


O livro "entre a sombra e o corpo", publicado em 1980 por David Mourão Ferreira, contém 30 poemas de três linhas que o autor previne no prefácio não serem haicai por não terem a métrica 5-7-5 mas sim 6-6-3. Mais a adiante escreve o autor: "(o leitor..) dirá ainda se estes falsos haicai lhe parecem ou não verdadeira poesia. Para mim constituiram eles, sobretudo, o apaixonante ensejo de tentar dizer, do modo mais condensado - e com possibilidades de mais de uma leitura - muito do que há muito, ou desde sempre, me venho esforçando por exprimir".

A tal pessoa que respeito falou-nos neste... É engraçado como quando conhecemos uma coisa nova, ela passa a surgir-nos tão frequentemente.

Ao meio-dia em ponto
entre a sombra e o corpo
o encontro

Noção das conveniências...

Se bem me recordo, acho que ontem disse, num local formal, a uma pessoa que respeito, que as bolas de espelhos só serviam para potenciar o efeito dos ácidos. Basta a repetição destas palavras para me provocar, entre o diafragma e a traqueia, aquele sacudir próprio do riso incontrolável. O sorriso amarelo de incompreensão que se seguiu a esta frase, foi quase tão hilariante como a minha alucinação momentânea. Devo mesmo estar a perder a noção das conveniências...

terça-feira, abril 28, 2009

Tenho andado de sobrolho franzido, de semblante sombrio, até as promessas me cansam e cada sorriso é um esforço. As conversas maçam-me e os outros matam-me de tédio.

Há palavras que não me atrevo a dizer em voz alta, relatos que não faço, conclusões que não tiro e, ai de quem me obrigue a pensar.

Haja forma de vomitar o mundo: faço-o sem hesitar.

segunda-feira, abril 27, 2009

Épico

Isto está mesmo bem feito!



E agora para algo completamente fútil: Se alguém quiser costurar um vestidinho daqueles para mim, vou ser muito feliz, embora me pareça que não vá ficar tão distinta... acho que o estilo será mais prostituta vitoriana... nada contra.

piscina egoísta

a tristeza é como a água.
o corpo estranha a temperatura. surpreende-se. freme enquanto a água corre fria. quente.
depois a água toma a nossa forma, preenche-nos. submergimos. está escuro, a água é negra. e forma-se um silêncio no espaço que antes era ar.
a água invade-nos, toma o nosso calor, entra-nos pelo nariz, pela boca, força o seu caminho até aos pulmões. entra pelos ouvidos que estalam até emudecer. por todos os poros da superfície inteira da pele. instala-se entre ela e o músculo. habita onde antes eras tu.

quinta-feira, abril 23, 2009

Sentenças/Sentences (3ª)

o amor é único sentimento discricionário que me permito.

quarta-feira, abril 22, 2009

terça-feira, abril 21, 2009

the healing power of music

hoje o post era para ser sexo, violência e morte, mas estou a ouvir o vitor espadinha e o eterno "recordar é viver". esta é uma daquelas músicas que lixa qualquer disposição para a destruição.

ou seja, assim de repente, não tenho palavras.

segunda-feira, abril 20, 2009

ode ao poeta

Se fui capaz de, muitas vezes, deleitar-me com as minhas lágrimas, o meu corpo rejeita visceralmente a possibilidade de causar as tuas. Se há alguma beleza no meu rosto banhado na água que brota dos meus olhos, a ideia de que os teus vertam uma gota sequer, dói-me no peito como um punhal lento.

Por isso, meu amor, compreendes que a noção de que possa existir alguém para quem provocar a dor é um exercício poético, me dá náuseas.

quinta-feira, abril 16, 2009

dito por outras palavras

quando não somos livres, se não somos verdadeiramente livres, agimos como irresponsáveis.

e tenho dito.

terça-feira, abril 14, 2009

Happy Birthday Mr. President

Quando morreste o meu irmão fez-te esta pequenina homenagem com o título Thirty Forever.
A verdade é que já fazes 41: Cooooooooooooooooooooota!
Beijos meus, meu amor.

domingo, abril 12, 2009

did i mention that drugs really do make a difference?

sábado, abril 11, 2009

quando for grande quero ter um blog de gente crescida. uma coisa planeada, com início e fim. e com um estilo, acho que é isso, um tom que atravesse. como este por exemplo! ainda não li muito mas parece-me bem...

quero ter um produto mais bem acabado digamos assim. esta coisa esquizófrenica até a mim me espanta: ai que a rapariga agora escolhe músicas do tempo da outra senhora, ai que lhe vai dando para a moral e bons costumes ou então vai ficando louca e dizendo palavrões feita carroceira.

e depois, acabar a noite passada em claro, partilhando risos tontos com a tv, aqui... is just plain stupid.

O ataque de cristandade deve-me estar a passar porque...

a minha alma está parva.

sexta-feira, abril 10, 2009

Perdoem-me: quando começar a transcrever partes da bíblia é porque estou possuída.

O SERMÃO DA MONTANHA

É o mais famoso e importante discurso da Cristandade. O sermão definiu um código de conduta que continua a ser a base da moralidade ocidental.
Referido por Lucas no capítulo 6.º do seu Evangelho é, em princípio, transcrito integralmente nos capítulos 5.º a 7.º do Evangelho de Mateus, que o apresenta assim:


«Ao ver a multidão, subiu a um monte, e, depois de Se ter sentado, aproximaram-se d'Ele os discípulos. Tomando então a palavra, começou a ensiná-los, dizendo:»

«Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus.
Bem-aventurados os que choram porque serão consolados.
Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.
Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.
(...)
Ouviste que foi dito: "Olho por olho, e dente por dente". Eu digo-vos: Não oponhais resistência ao mau; se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra. E se alguém quiser pleitear contigo para te tirar a túnica dá-lhe também a capa. Se alguém te obrigara acompanhá-lo durante uma milha, acompanha-o durante duas. Dá a quem te pede, e não voltes as costas a quem te pedir emprestado».

Ouvistes que foi dito: "Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo". Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. Fazendo assim, tornar-vos-eis filhos do vosso Pai que está nos Céus; pois Ele faz que o sol se levante sobre os bons e os maus e faz cair a chuva sobre os justos e os pecadores. Porque, se amais os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não o fazem já os publicanos? E, se saudais somente os vossos irmãos que fazeis de extraordinário? Não o fazem também os pagãos? Sede, pois, perfeitos, como é perfeito vosso Pai celeste.
(...)
Não julgueis para não serdes julgados, pois, conforme o juízo com que julgardes, assim sereis julgados; e, com a medida com que medirdes, assim sereis medidos. Porque reparas no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho? Como ousas dizer ao teu irmão: "Deixa-me tirar o argueiro do teu olho", tendo tu uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e então verás para tirar o argueiro do olho do teu irmão. Não deis as coisas santas aos cães nem lanceis as vossas pérolas aos porcos, para não acontecer que as pisem aos pés, e, acometendo-vos, vos despedacem.»

quarta-feira, abril 08, 2009

a ver se consigo dar alguma utilidade ao Twitter

Twit, twit, twit!...
desculpem-me a falta de sentido de humor mas para além de não ter medo, estou a ficar um bocado farta do bicho papão.

segunda-feira, abril 06, 2009

Sentenças/Sentences (2ª)

ao telefone com outra gaja (entenda-se, amiga):

- Porque nos últimos anos, e convenhamos, também nos anteriores, foram sempre os gajos que me deram com os pés e isso não faz sentido porque eu... bem... eu sou eu!

felizmente, do outro lado, a gaja concordou.

Esta rapariga, tal como eu, era um bocado estúpida

mas como começo a ficar farta, e hoje está de chuva, vou mergulhar no aquário






Patsy Cline - Crazy

domingo, abril 05, 2009

Sentenças/Sentences (1ª)

Dizes-me que tenho uns dentes bonitos e rebenta um sorriso na minha boca.

sábado, abril 04, 2009

while i'm awake

Quando eu sou eu, quando estou estou em mim, vivo noutros. Aceito-o pacificamente. Abraço essa maneira de ser. É debaixo da pele dos outros humanos que reside a felicidade, a amizade, o encontro, a entrega, o amor, e é lá que quero habitar.

Existiu um tempo onde só me encontrava em ti, mas tu não estás cá, not anymore, estás dentro de mim, és parte de mim, parte do património que tenho para partilhar com os outros. Não me permitirei esquecer-te. Hás-de doer-me sempre. A tua carne é a minha carne, os teus olhos são os meus olhos, as tuas veias as minhas veias, o teu sexo o meu sexo.

Tudo isto interessa e não tem, ao mesmo tempo, importância nenhuma. Só eu tenho que lidar com isso, a vida real não se compadece com presentes e passados e corre independentemente de nós.

Claro que às vezes é preciso perder algum tempo a desfragmentar: levanto-me e vou decapar uma porta, tirar a cera um móvel, pôr uma máquina a lavar, estender lençois, arranjar as sobrancelhas, novamente cortar a franja de uma forma esdrúxula, tratar dos extratos bancários, brincar com o computador, ouvir a mesma música até à exaustão. Coisas banais, manuais, úteis, automáticas. Coisas minhas. Dentro de portas.

Mas sei que um dia a vida, a tal vida real, apanha-me distraida e faz-me esquecer que há coisas que me escurecem: a deslembrança dos passos em falso. Descuidada e ainda intencionalmente avançarei sobre o abismo da existência rindo.

sexta-feira, abril 03, 2009

Quando chegaste

não te perguntei nada. Tinhas apenas voltado e tudo era como dantes.

Mais tarde fiz as minhas birras, perguntei-te porque me tinhas deixado tanto tempo sem ti. Tanto tempo enganada e a cometer enganos.

Compreendi finalmente que tinhas levado contigo os teus discos porque no momento em que o carro se despenhou percebeste que tinhas que ir viver outra vida sem mim.

Sabia que te tinha visto. Várias pessoas sabiam que andavas por cá e optaram por não se intrometer: era uma escolha tua continuares morto.

Disseste-me que tinhas dormido com muitas mulheres e outros homens. Sujámo-nos ambos. E quando voltaste passámos a faze-lo juntos.

Continuamos imperfeitos mas o teu lugar é aqui. O nosso sítio é o mesmo. Pertencemos um ao outro, por isso voltaste e por isso te quero exactamente do mesmo modo infernal, infeliz e lógico que temos de estar.

Ao acordar sabia-me deitada incómoda neste sofá, era este sófa e este tempo. Antes de abrir os olhos senti-te ainda sentado debaixo das minhas pernas. No segundo seguinte lembrei-me que o caixão estava aberto e tu estavas lá, lindo, frio, morto em exibição.

quinta-feira, abril 02, 2009

6 dias antes de morreres

6 dias antes de morreres fazias rádio.
6 dias antes de morreres batias punhetas ao som da porno chachada.
6 dias antes de morreres cozinhavas delícias.
6 dias antes de morreres zangavas-te comigo.
6 dias antes de morreres eras o meu melhor amigo.
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...

Como a "tua" música é para ser ouvida sempre, aqui está ela.

Os vários programas de Gino a.k.a Plexus estão disponíveis directamente no seu castpost ou aqui mesmo, navegando na barra por baixo da imagem correspondente ao programa de 26 de Novembro de 2006.




quarta-feira, abril 01, 2009

Lost

Estamos num espaço labiríntico.
Eu, tu, um filho teu.
Procuramo-nos e perdemo-nos nos corredores cilindricos.
Estamos aflitos, não há tempo, não há dia, não há espaço exterior.
O menino deixa-nos em cuidados: Para além de nós existe ele que brinca, que foge aos perseguidores e nos escapa.
Nós... nós só queriamos encontrar-nos.

Regime de 1/2 Pensão