domingo, maio 31, 2009

gravidade

e se eu tivesse os tornozelos muito inchados? e se eu tivesse o andar de um patinho desajeitado? amar-me-ias?

o engraçado é que tenho a certeza que sim.

sexta-feira, maio 29, 2009

Sentenças/Sentences (6ª)

o desamor perdoo-te, do amor me perdoo.
para a ignomínia da indiferença, não encontro perdão.

quinta-feira, maio 28, 2009

chemical hangover

Ordena-me: a menina leia isto que aqui está escrito se faz favor e confirma com voz de quem afirma, esta é a sua letra, não é?. Não existe outra hipótese senão repetir as palavras que escrevi, (sim é a minha caligrafia), e não recordo ter escrito. Apenas reconheço que o fiz porque me dói a cada sílaba. E não sei se me fere mais a ordem, se a leitura, se o teu olhar atento, aflito e cobarde enquanto me ouves despir o meu amor por ti: infeliz e sem retorno na margem de um papel. Uma folha recortada, anotada e velha onde, a lápis, perdida entre outras glosas, consta a confissão.

***

Entre a mutação e a fuga [de bicicleta ou conduzindo uma carrinha de porta lateral deslizante?].
Entre uma muito nocturna Rua dos Clérigos e um deprimido espaço comercial.
Entre a chuva que molha a celebração e o caos do último dia.

Sobrevivi a uma noite inteira de tarefas que realizo com náusea.
Debati-me com informações contraditórias.
Cumpri os meus últimos desejos.

Silvio Rodriguez - Mi Unicórnio Azul

Silvio Rodriguez - Mi Unicórnio Azul

clicar no link acima

A música que devia ser possível ouvir (e pelo menos no meu computador não é) na barra lateral. Espero assim conseguir partilhá-la.

terça-feira, maio 26, 2009

Sentenças/Sentences (5ª)

Tu não precisas saber, eu é que preciso dizer-te.

sexta-feira, maio 22, 2009

Voyer II

Quando se deu conta da sua presença, ela estava a meia dúzia de passos da porta. O sol tornava o dia invulgarmente quente. Deixou-se estar no seu local mas o seu primeiro impulso foi correr em seu auxílio tomando-lhe dos braços vários dos volumes que transportava.

Não o fez. Se o fizesse deixaria de fazer sentido observá-la.

Não deixava, no entanto, de se surpreender com aquela capacidade absurda que ela demonstrava de trazer e levar. Carregar, transportar. As coisas que muda de sítio são sempre diferentes: caixas, sacos, papéis, canudos, tecidos, máquinas e livros. Ele tentava muitas vezes deslindar o significado daquelas idas e vindas. Ao fim de algum tempo começava a ser possível adivinhar onde ia, de onde vinha e podia até seguir o fio dos seus dias ou de uma ou outra coisa que a ela se dedicava naquele momento. Outras vezes era pura e simplesmente impossível entender o que aquele leva e trás esconde ou revela.

Naquele dia debatia-se, uma vez mais, com aquela bolsa de cor indefinida cujo tom se aproxima bastante dos sacos de plástico da Mariazinha. Procurava as chaves enquanto equilibrava na anca uma belíssima caixa de madeira daquelas que imaginamos a viajar em cargueiros. Esboçou um pequeno esgar de dor quando se rendeu à carteira e se baixou para pousar a caixa. Suspirou.

A carteira finalmente aberta em cima da caixa. Ele percorreu então os seus gestos demorados para encontrar o molho metálico que procurava e continuou olhando o suor que lhe preenchia o lábio superior, lhe molhava a t-shirt debaixo dos braços e numa fina linha abaixo do peito. Parecia aliviada pela pausa e por isso este procedimento levou muito mais tempo do que seria necessário.

Tal qual uma mula de infinita paciência, escolheu então o ombro para a carteira, mudou a caixa para o outro lado da anca e equilibrou-lhe aquilo que, aquela distância, parecia um molho razoável de fotocópias. Abriu finalmente a porta, que entreabriu primeiro com o pé e terminou de empurrar com as costas, rodando sobre si própria. Foi nesse segundo em que, com a cara húmida e brilhante pelo o sol, ela se virou novamente para a rua, ele lhe vislumbrou o olhar. Teve então a sensação, pela primeira vez, que os olhos vermelhos dela atravessaram os seus.

(cont.)

segunda-feira, maio 18, 2009

hoje um espírito negro pairava sobre as pessoas. sorri-lhes e falei-lhes esperando retorno.
como ele não aconteceu, pirei-me.

sábado, maio 16, 2009

Beat this!!


Esta foi a minha primeira prenda! A fasquia está alta...


this baby girl is turning thirty today


quinta-feira, maio 14, 2009

spoiled birthday girl

Pronto. Todos me têm perguntado quais são os meus sonhos e desejos. Sim, para o meu aniversário. E a todos tenho dito "vá não sejas tonto/a! o que eu quero é que estejas presente.".

A verdade verdadinha é que prenda que eu quero imigrou da Itália para o Vietnam, e agora está como nova! Para conhece-la melhor basta clicar aqui.
Peçam um embrulho bem bonito e eu vou buscá-la ao Porto de Leixões. Thanks!

domingo, maio 10, 2009

Olivier

(Olivier Besancenot)
De amoroso sorriso desancou no capitalismo como há muito já não ouvia.

sábado, maio 09, 2009

Voyer I

Sentava-se à sua porta. Nem sempre o fazia, mas desde que descobrira onde vivia fazia-o cada vez mais frequentemente. Não sabia explicar porque desenvolvera esse hábito, mas já descobrira o local onde poderia vê-la alcançar o puxador da porta, abri-la, dar aquele pequeno salto para o passeio e deixa-la bater atrás de si. Já tinha visto este momento demasiadas vezes para ignorar que a porta nem sempre fica fechada no trinco, por vezes fica só encostada, mas ao contrário da maior parte dos seus vizinhos ela nunca se volta para trás para certificar-se disso. Nessa altura estava já completamente convencido de que ela não podia importar-se menos com a possibilidade de alguém entrar no prédio.

Do local onde se instalara podia ainda notar como a imagem dela se reflecte na montra do café, da tabacaria, da frutaria, do bazar, da loja de velharias que está sempre fechada, do talho que fechou de vez, da churrasqueira, do minimercado, da tabacaria e depois disso perde-a de vista. Sabe que no café ela verifica o cabelo preso e a curva da nuca, no talho escuro a forma como as calças lhe assentam, depois perde-se nos títulos dos jornais e compara as parangonas das revistas para de seguida desaparecer realmente dos seus olhos. Vê-a ainda por vezes se optar por atravessar a rua, mas nessa altura já está em modo de andamento automático e na verdade já não é ela, é o invólucro dela.

Hoje saiu cedo, ar fresco, mas o prenúncio era de um dia bom. Leva um casaco leve porque certamente já o prevê. Ele já estava lá. Não se tinha ainda instalado, dirigia-se apenas para lá. Agradeceu o facto de ainda a ter apanhado a sair, de outra forma ficaria convencido que dormiria até tarde.

(cont.)

Sentenças/Sentences (4ª)

Há coisas que são de um mau gosto tal, que chega a ser ofensivo. Uma delas é a falta de educação.

Política

Amanhã vou escrever um bocadinho sobre política pela primeira vez neste blog.
Ah! Desculpem... na verdade... tenho estado sempre a fazer política.

sexta-feira, maio 08, 2009

vieram as chuvas e tu permaneceste

o teu crânio bilhante e húmido

veio a seca e tu quedaste-te imóvel com os pés gretados

acordo e tu escutas a noite em meu redor
caminho e tu caminhas em silêncio a meu lado

domingo, maio 03, 2009

Labirinto ou não foi nada

Talvez houvesse uma flor
aberta na tua mão.
Podia ter sido amor,
e foi apenas traição.

É tão negro o labirinto
que vai dar à tua rua. . .
Ai de mim, que nem pressinto
a cor dos ombros da Lua!

Talvez houvesse a passagem
de uma estrela no teu rosto.
Era quase uma viagem:
foi apenas um desgosto.

É tão negro o labirinto
que vai dar à tua rua...
Só o fantasma do instinto
na cinza do céu flutua.

Tens agora a mão fechada;
no rosto, nenhum fulgor.
Não foi nada, não foi nada:
podia ter sido amor.

David Mourão Ferreira
À Guitarra e à Viola(1954-1960)
Obra Poética1948-1988
4.º Edição
Editorial Presença

sexta-feira, maio 01, 2009

back to life

Outra vez. Tu vivo. Todos sabem. Moras mesmo em frente. Tens uma casa grande, gordurosa, onde todos jantam. Já nem tenho a certeza de que gostas de mim. Tenho que lutar contra todos os teus outros afazeres. Queres castigar-me e todo este processo de me deixa exausta.

Volta, por favor, calmamente aos meus sonhos.