domingo, fevereiro 15, 2009
E eis que voltaram as filas imensas para a casa de banho. Espaços amplos, modernos, cheios de gente. Um imenso museu talvez. Um enorme centro comercial de luxo. Qualquer coisa, não sei. Lá dentro labirintos de compartimentos e portas fechadas, ou portas abertas com fechaduras desengonçadas, muitas gabines ocupadas, poucas vagas. E as tentativas começam. Uma porta e tudo é absolutamente imundo, àgua, fezes, urina. Outra o porta: cenário de latrina, cenário de campo de concentração, em tudo semelhante a um festival de verão na sujidade mas muito mais triste, angustiante, sem alternativa. E não é que a vontade se faça sentir, mas tenho de continuar a tentar encontrar um sitio mais limpo, mais luminoso. Já nem sei sequer onde é a saida, já nada lembra que estamos num espaço dentro de um espaço moderno, amplo e luxuoso. As pessoas esperam frente aos compartimentos, as pessoas movimentam-se de um lado para o outro sem razão aparente, as pessoas entram. Concluo que não encontrarei nada melhor. Procuro apenas agora o menos mau. O menos mau é sórdido, talvez não seja sequer o menos mau, talvez seja igualmente mau. Água, mijo, merda. Procuro não tocar em nada, procuro não me molhar, procuro não deixar que o meu corpo se encoste às paredes que transpiram excrementos. Sou obrigada a reparar que existem duas retretes no mesmo compartimento. A privacidade não existe. Sujo-me. Saio. Acordo antes de chegar ao espaço amplo, moderno e luxuoso.
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