sábado, abril 04, 2009

while i'm awake

Quando eu sou eu, quando estou estou em mim, vivo noutros. Aceito-o pacificamente. Abraço essa maneira de ser. É debaixo da pele dos outros humanos que reside a felicidade, a amizade, o encontro, a entrega, o amor, e é lá que quero habitar.

Existiu um tempo onde só me encontrava em ti, mas tu não estás cá, not anymore, estás dentro de mim, és parte de mim, parte do património que tenho para partilhar com os outros. Não me permitirei esquecer-te. Hás-de doer-me sempre. A tua carne é a minha carne, os teus olhos são os meus olhos, as tuas veias as minhas veias, o teu sexo o meu sexo.

Tudo isto interessa e não tem, ao mesmo tempo, importância nenhuma. Só eu tenho que lidar com isso, a vida real não se compadece com presentes e passados e corre independentemente de nós.

Claro que às vezes é preciso perder algum tempo a desfragmentar: levanto-me e vou decapar uma porta, tirar a cera um móvel, pôr uma máquina a lavar, estender lençois, arranjar as sobrancelhas, novamente cortar a franja de uma forma esdrúxula, tratar dos extratos bancários, brincar com o computador, ouvir a mesma música até à exaustão. Coisas banais, manuais, úteis, automáticas. Coisas minhas. Dentro de portas.

Mas sei que um dia a vida, a tal vida real, apanha-me distraida e faz-me esquecer que há coisas que me escurecem: a deslembrança dos passos em falso. Descuidada e ainda intencionalmente avançarei sobre o abismo da existência rindo.

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