Farei um poema de puro nada
nem de mim nem de ninguém,
nem juventude nem amada,
nem outro alguém,
só que andei a trová-lo
dormindo sobre um cavalo.
Não sei a hora em que fui nado,
não sou alegre nem irado,
nem reservado nem estranho,
culpa não tenho,
que deste modo fui fadado
de noite numa montanha.
Amada tenho, não sei quem é:
que nunca a vi, por minha fé;
não fui cortês nem descortês
e não me importa:
que nunca tive normando nem francês
dentro da porta.
Quero-lhe muito e nunca a vi;
e nem favor ou desfavor eu tiro dela;
pouco me importa se não está aqui;
nem sequer presta:
sei de outra mais gentil e que é mais bela,
melhor do que esta.
Não sei sequer onde ela habita,
se na montanha ou na planície;
o mal que ela me fez eu não o disse,
calado estou;
Que ela aqui esteja é uma desdita,
e assim me vou.
Fiz um poema não sei de quê;
e vou mandá-lo para quem
há-de enviá-lo para outrem
a Poitiers,
o qual me enviará de sua lavra
a contraclava.
Guillaume, IX Duque da Aquitânia e VII Conde de Poitiers (1071-1227)
in Rouxinol do Mundo de Manuel Alegre (selecção e tradução)
terça-feira, agosto 12, 2008
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