ATENTO
- Não me disseste nada sobre a minha saia nova. Verde alface, justa, curta. Não te lembras nunca das nossas conversas, do nome das pessoas de que te falo, dos sítios onde vou com elas. Esqueces-te de acordar nos dias em que te peço para vires ter comigo e almoçar. Sinto-me disponível para os outros. O que queres que te diga mais? Nunca comentas o meu novo penteado, as unhas pintadas, a depilação feita a custo. Não apareceste sequer na vernissage da minha exposição. Toda a gente a perguntar por ti e eu sem saber o que dizer. Pouca gente das minhas relações te conhece, ou, se te conhece, raramente te vê ao meu lado. Quero sentir carinhos em público, mostrar-me amada, desejada. Passamos o tempo enfiados num buraco escuro e fumarento. Vou ter contigo, fodemos, dormimos, eu acordo e vou trabalhar e tu ficar ali, estendido nu nos lençóis marcados de sangue de resquícios do período. A ti basta-te foder-me o cu, apalpar-me as mamas e saber que mais ninguém o faz. Mas eu quero mais! Quero um projecto de vida, ser infiel por prazer e não por consequência. Quero a minha casinha onde são os outros que levam as cuecas, a escova de dentes e a roupa para o dia seguinte. Um espaço para as minhas coisas, os meus livros, a minha roupa e deixar de parecer uma nómada em tua função. Percebes?
- Percebo. Para mitigar esta nossa desavença, distancia ou disfunção (ou seja lá o que lhe queiras chamar) vou deixar o meu trabalho de guarda-nocturno. Eu estou atento.…
“de tudo ao meu amor serei atento. E antes e com tal zelo e sempre e tanto, que mesmo em face do maior encanto, dele se encante o meu pensamento.”Vinicius de Moraes
Egínio Alberto dos Santos Teixeira (14/04/1968 - 03/12/2006)
- Não me disseste nada sobre a minha saia nova. Verde alface, justa, curta. Não te lembras nunca das nossas conversas, do nome das pessoas de que te falo, dos sítios onde vou com elas. Esqueces-te de acordar nos dias em que te peço para vires ter comigo e almoçar. Sinto-me disponível para os outros. O que queres que te diga mais? Nunca comentas o meu novo penteado, as unhas pintadas, a depilação feita a custo. Não apareceste sequer na vernissage da minha exposição. Toda a gente a perguntar por ti e eu sem saber o que dizer. Pouca gente das minhas relações te conhece, ou, se te conhece, raramente te vê ao meu lado. Quero sentir carinhos em público, mostrar-me amada, desejada. Passamos o tempo enfiados num buraco escuro e fumarento. Vou ter contigo, fodemos, dormimos, eu acordo e vou trabalhar e tu ficar ali, estendido nu nos lençóis marcados de sangue de resquícios do período. A ti basta-te foder-me o cu, apalpar-me as mamas e saber que mais ninguém o faz. Mas eu quero mais! Quero um projecto de vida, ser infiel por prazer e não por consequência. Quero a minha casinha onde são os outros que levam as cuecas, a escova de dentes e a roupa para o dia seguinte. Um espaço para as minhas coisas, os meus livros, a minha roupa e deixar de parecer uma nómada em tua função. Percebes?
- Percebo. Para mitigar esta nossa desavença, distancia ou disfunção (ou seja lá o que lhe queiras chamar) vou deixar o meu trabalho de guarda-nocturno. Eu estou atento.…
“de tudo ao meu amor serei atento. E antes e com tal zelo e sempre e tanto, que mesmo em face do maior encanto, dele se encante o meu pensamento.”Vinicius de Moraes
Egínio Alberto dos Santos Teixeira (14/04/1968 - 03/12/2006)
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