não escovo os dentes há exactamente 72.
não corto as unhas há 182 dias e observo o seu crescimento encaracolado no sentido da carne com uma espécie de orgulho doloroso.
não escovo o cabelo desde o primeiro dia do ano.
Fumo e cotão alojam-se nos longos tubos engrenhados e, agora que os corto, libertam-se numa nuvem poeirenta. Depois de todos os nós de cabelo terem caido por terra, afio uma faca e raspo o crânio. Corto-me e observo ao espelho o sangue espastar o sarro que se acumula no pescoço e nas clavículas.
Pondero correr para a rua nua e deixar a chuva desenhar-me no corpo sulcos enquanto uma poça lamacenta se forma a meus pés.
3 comentários:
Olá moça. Bem escrito, forte. Mas acho que não podes escrever "à" mas "há" porque se trata de tempo. Não publiques este comentário. Verifica se tenho razão e corrige se for o caso. Se não tiver, dás-me um estalo, rapas-me o cabelo, cospes-me e está o assunto resolvido. Beijo.te,
Pressinto aí alguma estética Tsukamoto ou é impressão minha? O pó que se solta do fino tubo dos cabelos quando cortados, é uma imagem prodigiosa e nova. Tem tempo dentro, é escrita para ser vista em câmara lenta.
Claro que publico ambos comentários porque se aqui me dispo tb aqui assumo que demasiadas drogas dão nisto: erros ortográficos de PALMATÓRIA!! Não me confundas com o raio das referências porque senão lá são mais livros para ler e esta pobre cabeça rapada já não dá para mais.
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